Dar uma olhada em algumas revistas das décadas de 60/70, é perceber como a televisão brasileira se comportava quando ainda era uma adolescente (afinal, a tv chegou no Brasil na década de 50). Naquela época, após o sucesso do rádio que se consagrou como veículo de massa a partir dos anos 30 (conta a lenda que seu idealizador, Roquete Pinto, bateu muito de porta em porta segurando os aparelhos, a fim de divulgá-los e, obviamente, vendê-los), a tela em preto e branco dos antigos televisores foram se popularizando aos poucos. Ao se familiarizar com o grande público, a televisão ajudou igualmente a tornar mais conhecidos alguns nomes que já existiam no rádio, além de divulgar outros anônimos, que após aparecerem na conjugação voz/imagem nos lares, viravam ídolos.
As notícias veiculadas aqui foram retiradas na revista Intervalo, números 299 e 385. Vale notar que esta publicação fazia um interessante jogo imagístico com o nome Intervalo, com destaque para as letras T e V inseridas em um desenho que reproduzia a própria tela. Mais poesia concreta do que isso, impossível, não é mesmo Augusto e Haroldo de Campos?
As notícias veiculadas aqui foram retiradas na revista Intervalo, números 299 e 385. Vale notar que esta publicação fazia um interessante jogo imagístico com o nome Intervalo, com destaque para as letras T e V inseridas em um desenho que reproduzia a própria tela. Mais poesia concreta do que isso, impossível, não é mesmo Augusto e Haroldo de Campos?
Leila Diniz dispensa comentários de apresentação. Mas o que muita top de hoje jamais imaginaria era que uma mulher considerada bonita, para os padrões de vedete (Virgínia Lane, Anilza Leone) não se pautava por ser uma Twiggy, ou seja, magérrima. Assim é que as certinhas do Lalau estavam mais para Mulher Melancia (se me perdoem a esdrúxula comparação) do que para Gisele Bundcheon. Por isso é que na matéria publicada abaixo, a reportagem não assinada afirma que Leila deseja, para voltar ao teatro rebolado, “encher um biquíni alguns números maior do que o que usa atualmente”. Cita outras atrizes que estariam na mesma intenção: “Maria Gladys, Norma Suely, Maria Aparecida, Zeli Silva e Ana Maria Magalhães são outras boazudas do elenco, e parece que também estão no regime de ampliação de fundos”. Não é mesmo incrível? Como os tempos mudaram!
Hebe Camargo vem atravessando as décadas com um fôlego artístico de fazer inveja. É um nome presente desde a primeira audição da TV no Brasil, nos desdobramentos cantora e apresentadora. Na reportagem abaixo, feita por Cynira Arruda, Hebe (um pouco de mitologia grega: pelo seu nome, Hebe surge mesmo como a personificação da juventude. Faz sentido, não é mesmo?) mostra o arquivo da correspondência que recebeu, segundo Cynira “desde o momento em que seu nome começou a projetar-se na televisão”.
Deve ser impressionante para a geração da época e-mails imaginar que, antigamente, as pessoas se comunicavam por cartas! Segundo a revista, os admiradores de Hebe, além das missivas, também lhe davam presentes, Entre esses admiradores, encontramos citada a cantora Rita Lee, na época, ainda na fase Mutantes: “com a mesma constância ela recebe presentes, que podem ser jóias , tapeçarias ou vinhos, flores, frutas. Entre as coisas curiosas, estão uma pulseira de cortiça e um colar de folhas de limão que foram dados por Rita dos Mutantes.”
A Intervalo trazia muitas propagandas, como qualquer revista do gênero. A acima divulga uma série que certamente não foi esquecida por quem a assistiu: A Família Trapo. Dentre os atores, Cidinha Campos (irreconhecível), Jô Soares e os saudosos Renata Fronzi e Golias:
O Público consumidor é fundamental na cultura de massa. Sem ele, os programas de televisão não dariam audiência, nem renderiam patrocínios. As platéias, nas suas poltronas ou nas dos auditórios, sempre foram peça chave no processo de consumo industrial dos bens artísticos, mas, como em toda relação capitalista, nunca foi boa idéia mostrar ao público consumidor que ele detinha tal poder de consagrar ou de destruir ídolos, muitas vezes fabricados. E a engrenagem industrial tratou logo de colocar os anônimos no seu lugar, como verifica-se na matéria abaixo, também não assinada, com fotos de Ioannis Hatiras.
“Numa das ruas do centro de São Paulo, uma fila que se estende por vários quarteirões chama a atenção dos passantes. São homens, mulheres, velhos, crianças, brancos ou pretos que se alinham, uns atrás dos outros, durante muitas horas. Os pacotes e as sacolas se multiplicam nos braços de cada um, enquanto são feitas novas amizades ou são reiniciadas conversas que vêm desde a outra semana. Pelo aspecto das pessoas, mais parece uma fila de INPS, mas a porta onde ela começa a ser formada não é de nenhuma instituição beneficente: é apenas a porta de um auditório de televisão, ou melhor, do Canal 5, Tv Globo de São Paulo. Todas as semanas – não importa a chuva ou o sol, a fome ou os mal-tratos dos funcionários – esta cena se repete trazendo as mesmas pessoas para a mesma espera, até a hora em que as portas forem abertas e elas possam se acomodar na platéia para aplaudir um destes três ídolos: Sílvio Santos, Dercy Gonçalves ou Chacrinha.”
A matéria segue identificando o responsável pela organização do auditório do Programa Sílvio Santos, o animador Gonçalo Roque, ou o “Rei dos macacos”, como era chamado pelas fãs, talvez numa alusão à macaca de auditório que, no sentido amplo do termo, estava ali para ser amestrada no sentido de bater palmas, etc., nas horas certas. Gonçalo foi descrito como tendo “Trinta anos, crioulo, baixinho, cabelo repuxado e sapatos brancos (...) vereador de Carapicuíba, mas não despreza os 500 cruzeiros novos que recebe por mês, pelo seu trabalho no Programa Sílvio Santos, aos domingos. (...) As duas primeiras fileiras ficam reservadas para as moças bonitas que aparecem no programa (...) Os vinte lugares que cada um dos fã-clubes (Paulo Sérgio, Wanderley Cardoso e Antônio Marcos) ocupam devem ser próximos uns dos outros para evitar que as fãs troquem palavrões entre si, o restante dos lugares é para quem fica na fila”.
Que cosa, não? Depois ainda falam que certos Fã-Clubes não são calmos. Tsc tsc tsc. E parece que os poetas tinham razão, Vinícius de Moraes quando disse “As feias que me desculpem, mas beleza é fundamental” e Manuel Bandeira com “Como deve ser bom amar uma feia!/Mas o meu amor não tem bondade nenhuma”, pelo menos ali na primeira fila do auditório, parece mesmo que sim!
As personagens que ocupam o auditório eram variadas, desde senhoras, empregadas domésticas e operárias que dormiam na porta da Rede Globo: “A gorda Maria Carolina da Silva que, apesar da amizade com Roque, não pode se dar ao luxo de entrar no auditório sem enfrentar a fila. Ela sai de sua casa, em Guarulhos, às 3h30 no domingo e uma hora depois já está na porta do auditório. O pouco dinheiro que ganha bordando é gasto em táxi nestes dias.” Mas, segundo a matéria, só de plebe vivia tal corte, pois “recentemente, um Galaxie (procurem no Google) parou defronte à Tv Globo. Era Dona Déa Magalhães, professora primária e esposa de um grande fazendeiro em Colatina, interior de São Paulo. Imediatamente Gonçalo arranjou-lhe um lugar privilegiado e a todo instante repetia: “Olhe, Dona Déa, a senhora pode voltar quando quiser, pra senhora não há fila não, ouviu?”
Que cosa, imagine hoje em dia uma professora primária ter esse tratamento vip! Ou o tratamento ainda se daria se ela fosse esposa de um grande fazendeiro?...
Passo dos ventos, alguém se lembra dessa novela, adaptada por Janete Clair? Com texto assinado por Júlio César e fotos de Pedro Henrique, a matéria desse número de Intervalo polemizava a respeito do caso de amor e consequente censura vivida entre os personagens de Djenane Machado (interpretando Hanah) e o ator negro Jorge Coutinho (como Bienaime). Quando aconteceu o primeiro beijo em cena, cartas desaforadas chegaram à Rede Globo. O texto não esclarece se mudanças foram feitas para agradar ao público preconceituoso, mas afirma que Régis Cardoso, o diretor da novela, não dera muita confiança a tais manifestações. Como nessa época eu nem sonhava em ver tele-dramaturgia, nem li nunca nada a respeito, gostaria de saber o desfecho!
Como diria Flávio Cavalcanti: Nossos comerciais, por favor!
Hebe Camargo vem atravessando as décadas com um fôlego artístico de fazer inveja. É um nome presente desde a primeira audição da TV no Brasil, nos desdobramentos cantora e apresentadora. Na reportagem abaixo, feita por Cynira Arruda, Hebe (um pouco de mitologia grega: pelo seu nome, Hebe surge mesmo como a personificação da juventude. Faz sentido, não é mesmo?) mostra o arquivo da correspondência que recebeu, segundo Cynira “desde o momento em que seu nome começou a projetar-se na televisão”.
Deve ser impressionante para a geração da época e-mails imaginar que, antigamente, as pessoas se comunicavam por cartas! Segundo a revista, os admiradores de Hebe, além das missivas, também lhe davam presentes, Entre esses admiradores, encontramos citada a cantora Rita Lee, na época, ainda na fase Mutantes: “com a mesma constância ela recebe presentes, que podem ser jóias , tapeçarias ou vinhos, flores, frutas. Entre as coisas curiosas, estão uma pulseira de cortiça e um colar de folhas de limão que foram dados por Rita dos Mutantes.”
A Intervalo trazia muitas propagandas, como qualquer revista do gênero. A acima divulga uma série que certamente não foi esquecida por quem a assistiu: A Família Trapo. Dentre os atores, Cidinha Campos (irreconhecível), Jô Soares e os saudosos Renata Fronzi e Golias:
O Público consumidor é fundamental na cultura de massa. Sem ele, os programas de televisão não dariam audiência, nem renderiam patrocínios. As platéias, nas suas poltronas ou nas dos auditórios, sempre foram peça chave no processo de consumo industrial dos bens artísticos, mas, como em toda relação capitalista, nunca foi boa idéia mostrar ao público consumidor que ele detinha tal poder de consagrar ou de destruir ídolos, muitas vezes fabricados. E a engrenagem industrial tratou logo de colocar os anônimos no seu lugar, como verifica-se na matéria abaixo, também não assinada, com fotos de Ioannis Hatiras.
“Numa das ruas do centro de São Paulo, uma fila que se estende por vários quarteirões chama a atenção dos passantes. São homens, mulheres, velhos, crianças, brancos ou pretos que se alinham, uns atrás dos outros, durante muitas horas. Os pacotes e as sacolas se multiplicam nos braços de cada um, enquanto são feitas novas amizades ou são reiniciadas conversas que vêm desde a outra semana. Pelo aspecto das pessoas, mais parece uma fila de INPS, mas a porta onde ela começa a ser formada não é de nenhuma instituição beneficente: é apenas a porta de um auditório de televisão, ou melhor, do Canal 5, Tv Globo de São Paulo. Todas as semanas – não importa a chuva ou o sol, a fome ou os mal-tratos dos funcionários – esta cena se repete trazendo as mesmas pessoas para a mesma espera, até a hora em que as portas forem abertas e elas possam se acomodar na platéia para aplaudir um destes três ídolos: Sílvio Santos, Dercy Gonçalves ou Chacrinha.”
A matéria segue identificando o responsável pela organização do auditório do Programa Sílvio Santos, o animador Gonçalo Roque, ou o “Rei dos macacos”, como era chamado pelas fãs, talvez numa alusão à macaca de auditório que, no sentido amplo do termo, estava ali para ser amestrada no sentido de bater palmas, etc., nas horas certas. Gonçalo foi descrito como tendo “Trinta anos, crioulo, baixinho, cabelo repuxado e sapatos brancos (...) vereador de Carapicuíba, mas não despreza os 500 cruzeiros novos que recebe por mês, pelo seu trabalho no Programa Sílvio Santos, aos domingos. (...) As duas primeiras fileiras ficam reservadas para as moças bonitas que aparecem no programa (...) Os vinte lugares que cada um dos fã-clubes (Paulo Sérgio, Wanderley Cardoso e Antônio Marcos) ocupam devem ser próximos uns dos outros para evitar que as fãs troquem palavrões entre si, o restante dos lugares é para quem fica na fila”.
Que cosa, não? Depois ainda falam que certos Fã-Clubes não são calmos. Tsc tsc tsc. E parece que os poetas tinham razão, Vinícius de Moraes quando disse “As feias que me desculpem, mas beleza é fundamental” e Manuel Bandeira com “Como deve ser bom amar uma feia!/Mas o meu amor não tem bondade nenhuma”, pelo menos ali na primeira fila do auditório, parece mesmo que sim!
As personagens que ocupam o auditório eram variadas, desde senhoras, empregadas domésticas e operárias que dormiam na porta da Rede Globo: “A gorda Maria Carolina da Silva que, apesar da amizade com Roque, não pode se dar ao luxo de entrar no auditório sem enfrentar a fila. Ela sai de sua casa, em Guarulhos, às 3h30 no domingo e uma hora depois já está na porta do auditório. O pouco dinheiro que ganha bordando é gasto em táxi nestes dias.” Mas, segundo a matéria, só de plebe vivia tal corte, pois “recentemente, um Galaxie (procurem no Google) parou defronte à Tv Globo. Era Dona Déa Magalhães, professora primária e esposa de um grande fazendeiro em Colatina, interior de São Paulo. Imediatamente Gonçalo arranjou-lhe um lugar privilegiado e a todo instante repetia: “Olhe, Dona Déa, a senhora pode voltar quando quiser, pra senhora não há fila não, ouviu?”
Que cosa, imagine hoje em dia uma professora primária ter esse tratamento vip! Ou o tratamento ainda se daria se ela fosse esposa de um grande fazendeiro?...
Passo dos ventos, alguém se lembra dessa novela, adaptada por Janete Clair? Com texto assinado por Júlio César e fotos de Pedro Henrique, a matéria desse número de Intervalo polemizava a respeito do caso de amor e consequente censura vivida entre os personagens de Djenane Machado (interpretando Hanah) e o ator negro Jorge Coutinho (como Bienaime). Quando aconteceu o primeiro beijo em cena, cartas desaforadas chegaram à Rede Globo. O texto não esclarece se mudanças foram feitas para agradar ao público preconceituoso, mas afirma que Régis Cardoso, o diretor da novela, não dera muita confiança a tais manifestações. Como nessa época eu nem sonhava em ver tele-dramaturgia, nem li nunca nada a respeito, gostaria de saber o desfecho!
Como diria Flávio Cavalcanti: Nossos comerciais, por favor!
norma-mór-monamour
ResponderExcluire rola pérola por aqui!!!
colar de folhas de limão?! muito massa (se a vida não lher der nem 1 limão... faça um colar de folhas....hehehe)
bjo
Minhanossasenhora! Viagem no túnel do tempo! Eu tenho até hoje uma revista Intervalo autografada pelo Roberto Carlos, só Deus sabe como foi difícil, um verdadeiro massacre, mas valeu...
ResponderExcluirSaudades.
Neste seu blog achei muito interessante a matéria apresentada sobre a revista INTERVALO, onde aparece a atriz Djanane Machado no segundo recorte de cima para baixo.Esta era participante da FAMÍLIA TRAPO.Sendo eu fã da mesma e dos demais participantes do elenco alguns ainda vivos, por isto meu interesse vivaz neste quadro da TV dos anos 60. Agora fica uma pergunta; por onde anda esta atriz?Alguém pode responder?
ResponderExcluirCaramba, Norma, que legal!! adorei o texto!!! impressiona como a estrutura do programa de auditório é a mesma.
ResponderExcluirescreva mais, mais.
bjs!!
Por onde anda Djenane Machado?
ResponderExcluirA revista POP,quanta saudade!Vinha muitas dicas de como ajustar as roupas para ficarem mais encrementadas mais pop.Dicas para os jovens,principalmente.Colecionei, bastante estas e muitos gibis!
ResponderExcluirPara quem nasceu nos saudosos 80,é um estudo e tanto!.
ResponderExcluirOi Norma,parabéns pelo seu blog! Eu sou pesquisadora na França, poderia ter seu email por favor? Eis o meu: danielafr@hotmail.fr
ResponderExcluirAbraço.
Daniela
É realmente muito bom ver como começou a nossa TV Brasileira.
ResponderExcluirTenho cerca de 130 exemplares da revista Intervalo TV que por motivo de força maior eu vou precisar desfazer delas. A quem interessar entrar em contato com bernardes.lira@hotmail.com. Um abraço á todos.