sábado, 10 de junho de 2017

UMA NOVELA CHAMADA AVENIDA BRASIL



Terminei de ver a última novela politicamente incorreta da Globo que deu certo: Avenida Brasil. O box deixou a desejar na edição e praticamente o enredo, nele, se concentrou na trama principal: Carminha-Nina, embora sem trazer todas as frases da vilã que entraram para a história - e das quais me lembro até hoje, embora eu não tivesse acompanhado a Divino Story desde o primeiro capítulo (lembrei de Torquato Neto, "Não me acompanhe porque eu não sou novela" - e quem diria que ele foi colega de escola de Moreira Franco, mais conhecido como "gato angorá", apelido que foi dado a ele por Brizola...)
Não posso deixar de "dizer" que, em 2012, estava mais interessada em seguir as tuitadas geniais de Rita Lee no Twitter, do que em ver TV. Foi a própria Rita LitaRee_real que me jogou nas cenas do Divino, folhetim que ela adorava e ao qual sempre fazia referência naquela rede social. 

Não costumo comprar novelas recentes, a minha predileção são as das décadas 60/70, tenho muitas oriundas de gravações domésticas, nem sempre de boa qualidade - Dona Xepa, de 1977, nunca lançada pela Globo - e Beto Rockfeller - um marco de 1967, mas Avenida Brasil merece. O autor não conseguiu repetir o sucesso na outra que escreveu, para a mesma emissora, alguns anos depois, deixando a Avenida, para sempre, na memória dos fãs. Penso que o seu diferencial foi, excetuando os últimos capítulos, não ser maniqueísta, pois apesar de Carminha (Adriana Esteves Ótima) e Max (Marcello Novaes)  terem destruído a vida de Rita (Débora Falabella/Mel Maia), quando ela ainda era uma menina, a vingança cega e raivosa de Nina teve lances que não deixaram a dever a nenhum vilão... a trama poderia ter terminado tranquilamente quando Carmen Lúcia desmascarou Rita, mas a audiência resolveu alongar os capítulos... a maldade da megera mais amada do Brasil sendo punida com prisão e lixão deu o tom do país politicamente correto que já começava a se desenhar. Oi, oi, oi...


Talqualmente as novelas anteriores aqui comentadas, Carminha entrava no sarrafo, apanhando do "pai adotivo" (José Abreu) no lixão, do amante e também do marido Tufão (Murilo Benício) na mansão, deste último, somente depois que a sua carapuça caiu. O capítulo final foi feriado nacional (coisa que não se via há tempos...). A trama é sucesso até hoje, inclusive internacional, já tendo sido vendida para mais de 130 países, segundo o site http://memoriaglobo.globo.com/programas/entretenimento/novelas/avenida-brasil/curiosidades.htm

Carminha - a rainha dos memes!

A minha canção preferida da trilha original internacional: (A música nacional de que mais gostei? Adivinhem? Reza, de Rita Lee!)

Infiltrado – tema da Carminha
Composição: Juan Pablo Campodonico / Anibal Kerpel
Intérprete: Bajofondo


segunda-feira, 1 de maio de 2017

A OUTRA FACE DE JERRY ADRIANI

Dei uma pausa nas publicações sobre os folhetins para comentar sobre o Jerry. Na época dele eu ainda era um bebê, embora a minha mãe fosse fã da Jovem Guarda, o seu preferido era o Roberto Carlos, portanto, eu não tinha muito contato com ouvir/saber de outros daquele clã.

Achei na minha coleção da antiga revista Intervalo algumas matérias interessantes sobre ele.
Nelas, descobrimos, dentre outras coisas, que ele esteve em inúmeras capas  em todo o Brasil durante décadas, mas na Intervalo, que ainda não era contaminada pelo padrão glamour de qualidade, - o que transforma artistas em celebridades perfeitas, lindas e maravilhosas, -  obtemos algumas curiosidades mais interessantes, justamente porque diferenciadas no enfoque.

Ele era descrito como um ídolo distinto dos outros da Jovem Guarda, - que gostavam de colecionar carrões (como Os Mutantes ironizaram tão bem na canção Hey, boy). Ao ser indagado pelo repórter sobre "Até que ponto o sucesso pode alterar a vida de um jovem de 20 anos?" respondeu: "Se ele não tiver a cabeça no lugar, vai achar que tem o rei na barriga e dar uma de marciano, com mil palácios, carrões, jóias, camisas de ouro e sei lá o que mais." (Intervalo, nr 211, 22 a 28/1/1967, p. 5). 


A desconstrução não acabava aí. Em outra oportunidade, ele declarou que as revistas publicavam fotos dele nas quais aparecia tão bonito que quando algumas pessoas o viam pessoalmente, estranhavam: "Mas é isso que é o Jerry Adriani?"(Muito bom!😁😁😁😁)
Naquela época, eram os fãs que colocavam o artista no topo, haja carta para escrever votando e Correios para agradecerem...


Não basta ser cantor, uma dose de santo milagreiro também não faz mal a ninguém, e não duvido que a pequena fã da nota abaixo tenha melhorado, não é à toa que Rita Lee se autodeclarou Santa Rita de Sampa, pois de fato milagres acontecem na relação boa entre artistas e seu público, desde que não haja doença psiquiátrica (de ambas as partes), ou mesmo uso da imagem alheia (no caso, o fã confundir as estações e se achar amiguinho, usando do nome do astista famoso para subir na carreira...) misturado na história.

Naturalmente que, já maiorzinha, eu via Jerry na tv, nos Globos de Ouros, nos Fantásticos, nos Chacrinhas da vida, nos anos 70/80, quando o principal contato entre os suburbanos corações com alguma arte era mesmo através da telinhas em preto e branco e, depoisssssss, a cores, mas passava batido.

Fui rever Jerry nos anos 90, já professora de um Colégio famoso que existiu na Lapa, tinha sido um hotel, virou escola e atualmente é um hotel novamente, na Rua do Riachuelo, 124. Foi meu primeiro emprego decente, conseguido por minha irmã, com carteira assinada, lanche no intervalo, com direito a shows na época do aniversário. Os seus donos tinham a mania militar de comemorarem o Dia da Bandeira, o Dia da Independência, o Dia da República cantando o Hino e pedindo aos professores de Português redações dos alunos com os temas... O salário não era lá essas coisas, mas o ambiente sim, embora muito longe da minha casa, eu precisava pegar dois ônibus, sim, praticamente pagava para trabalhar. Foi no antigo Colégio da Mabe que me reencontrei com Jerry, mas não em uma tela de tv, de vez em quando ele aparecia por lá, pois era casado com Josi, uma das donas da escola. Bonitão!

Há poucos dias fomos todos avisados de sua morte... e também que, além ao lado de "bom rapaz" alimentado pela indústria cultural, Jerry tinha um outro bem rock'n roll, não só pelo vozeirão a la Elvis Presley e a la Renato Russo, mas também por ter praticamente descoberto e incentivado a carreira de Raul Seixas, ainda no grupo  Panteras...
Elvis Adriani não morreu!

Não sei se tinham conhecimento do fato, mas o nosso bom e velho Jerry cantou no Cavern Club e era admirado por um dos beatles... Tá bom para vocês? O post deveria se chamar As outras faces de Jerry Adriani! 

domingo, 9 de abril de 2017

PECADO CAPITAL OU "DINHEIRO NA MÃO É VENDAVAL"



Um outro grande sucesso disponibilizado em box e que eu revi foi a novela "Pecado Capital". Lançada em 1975,  escrita às pressas depois que "Roque Santeiro", de Dias Gomes (na época, marido de Janete), foi proibido pela Censura, após vários capítulos gravados. O jeito, enquanto esperava por um novo folhetim, era reprisar o grande sucesso "Selva de Pedra", reaproveitar todo o elenco já contratado para Roque e até os cenários (a casa de Salviano era a de Porcina na novela abortada e que só viria à tona, com novo elenco, dez anos depois)!

O enredo principal - o love story - se passava no subúrbio do Méier, bairro no qual residiam José Carlos Moreno Carlão, motorista de táxi (Francisco Cuoco) e Lucinha, operária (Betty Faria). Nessa época não havia Projac e as cenas eram gravadas nas ruas, incluindo Lucinha e Emilene (Elizângela) - uma mistura de Emilinha com Marlene, porque seus pais eram fãs cada um de uma cantora diferente - andando de trem na Central do Brasil e caminhando pela estação do Méier. Houve tomadas do Jardim do Méier (lá mesmo, onde o Bispo Macedo, alguns aninhos depois, faria as primeiras reuniões da futura Igreja Universal do Reino de Deus) e do antigo Hospital Municipal Salgado Filho (onde o pai de Carlão, Raimundo (Gilberto Martinho) -  ficou internado), bem antes das obras de atualmente. Também aparece a antiga fábrica Nova América, que servia de cenário para uma das indústrias de Salviano Santiago (Lima Duarte), atualmente bastante modificada como Shopping Nova América. Eu ia na antiga comprar tecidos com a minha mãe, por essa época... Um outro bairro que aparece bastante nas cenas é Madureira, incluindo o antigo Mercadão. Boni tinha receio de os telespectadores estranharem o realismo da novela e pediu a Daniel Filho (o diretor) que regravasse tudo, mas como a aceitação foi ótima, já nos primeiros capítulos, não foi preciso. Em 75, meu povo, fusca de duas portas e sem ar era táxi.

O dilema de devolver ou não uma mala cheia de dinheiro (800 mil) encontrada no táxi de Carlão, fruto de um assalto cometido por um casal (Rosamaria Murtinho e Zanone Ferrite - precocemente falecido em 1978) e a paixão entre ricos e pobres (Silviano e Lucinha) era a espinha dorsal da novela. Na foto, Eunice e Miguel, futuros amantes e assaltante/cúmplice.


O casal protagonista também não deixou de mostrar a forma como a mulher era tratada por um homem machista, infiel, possessivo e violento. Era na base do puxão e do tapa que José Carlos se relacionava com Maria Lúcia e foi assim, sempre partindo para a ignorância, que questionou o fato de ela ser modelo da agência de Nélio (Dênis Carvalho), convidada depois de ter sido descoberta por ele  enquanto fazia filmagens para um novo comercial da empresa de Salviano (Centauro), mas verdade seja dita: o moço também, nas horas românticas, até contratava serenata para ela, levando Luís Melodia para cantar em sua janela a clássica "Juventude Transviada". A ascensão de Lucinha se dá por ela ingressar no mundo da zona sul, residindo perto da praia, e novamente temos o namorado/noivo/futuro marido (como em Selva de Pedra, post anterior a este) implicando com o trabalho da mulher, pois Silviano não queria que ela trabalhasse como manequim (hoje  modelo) depois de casada.



Segundo Janete Clair, surpreendentemente o par Betty e Lima agradou ao público e eles terminaram juntos. O de Cuoco acaba casando com Eunice (Rosamaria Murtinho), a mulher que havia participado do assalto e que estava sendo chantageada pelo amante Miguel (Zanone), que ameaça contar tudo ao seu marido ,Ricardo (Moacyr Deriquem). Na versão marido de madame da zona sul, saiu o bigodinho, mas Carlão manteve as costeletas - moda nos anos 70.



Nas tomadas dos personagens moradores do além tunel, Copacabana era a preferida, além do centro do Rio. Observem a placa do fusca de Rosamaria ainda com o antigo estado da Guanabara - GB, que já havia mudado há um ano!


Um dado  interessante foi a criação do Dr. Percyval (Milton Gonçalves), psicólogo renomado, contratado para cuidar de Vilma (Débora Duarte), que não aceita a morte da mãe Mafalda (Isolda Cresta)  e nem que ela seja substituída por Lúcia. Foi o primeiro papel de Milton em que ele não fazia um personagem pobre, como sempre era destino dos negros, embora o médico não tivesse família e tivesse sido proibido, pela censura, de desenvolver um romance com Vitória (Tereza Amayo), a filha mais velha de Silviano.
A censura, aliás, também tratou de unir o personagem gay Roger (Nestor de Montemar) com a "solteirona" Djanira (Maria Pompeu).
Ousada, igualmente, foi a inserção de uma prostituta na tela da família brasileira no horário das 20:00 que vivia sendo chantageada pelo gigolô e levando, clara, tapas dele, mesmo já morando com o pai e o irmão, como assim o quis a Dona Censura. Quando Elisete (Leina Krespi) aparecia, lá vinha o Wando cantar: "Moça, me espere amanhã... sei que já não és pura...". Na foto, está outro personagem fora do comum, o taxista e amigo de Carlão, Marciano (Lutero Luiz), que vivia dizendo ver discos voadores, tomando uma antiga Brahma (sim, passam os anos e nas novelas cerveja ainda é a bebida dos suburbanos) - observem o rótulo.  Agora, imaginem se isso seria possível hoje, com a Lei Seca, dois taxistas tomando cerveja na hora do almoço... 


Os sete filhos de Salviano Santiago, que não davam a mínima para o velho (como chamavam um senhor de 50 anos na época!), raridade era juntá-los, como estão na foto abaixo: Luiz Armando Queirós, o playboy, Tereza Amayo, a casada infeliz, Marco Nanini, o tecnocrata que morava nos EUA, Débora Duarte, a pirada, João Carlos Barroso, que vivia encostado em casa e Lauro Góes, aliás, cursava Faculdade de Letras na UFRJ ao mesmo tempo que em que gravava a novela. Hoje, parece que ele é professor de lá. Na trama, ele se envolve com Emilene, mas resolve ficar com a batina, talvez para evitar problemas com a igreja em plena ditadura...
Após a ascensão social (a emergente Lucy Jordan - nome de guerra de Lucinha), ela tira a irmã mais nova da fábrica e a matricula em um curso noturno. Por isso, passamos a ver Emilene andando para cima e para baixo com uma prancheta na mão. Não sabe o que é uma prancheta?

A cena final da novela, gravada no metrô do largo da Carioca, ainda em construção, é emblemática. A morte de Carlão, quando ele resolve devolver o dinheiro, as cenas do casamento de Lucinha e Salviano tendo como fundo musical o excelente samba e a linda voz de Paulinho da Viola. A Globo fez um remake, mas eu não gostei, a começar pela abertura, com o samba assassinado por Alexandre Pires. 



segunda-feira, 3 de abril de 2017

EU VOLTEI, AGORA PARA FICAR COM SELVA DE PEDRA

Eis-me aqui para falar de novelas de novo, pois é, eu sou mesmo viciada no box de novelas antigas. Sabem qual estou assistindo atualmente? Avenida Brasil!

Falemos de Selva de Pedra, escrita por Janete Clair, naquela época em que não havia essa coisa de uma novela escrita a mil mãos, dona Janete sentava sozinha na máquina de escrever manual e mandava ver. Para começar, a abertura, que situava os personagens vindos do interior (Francisco Cuoco, Mário Lago, Ana Ariel, Dorinha Duval, Tessy Calado) para a cidade grande. A abertura mostrava cenas urbanas de um Rio de 1972, interessante que tinha até gente fazendo sinal de paz e amor na rua, no melhor contexto do movimento hippie. 
Contaram a quantidade de fuscas, minissaias, costeletas, etc, que aparecem? O interessante é notar que as tomadas de abertura focalizaram o centro do Rio, com pessoas de todas as classes sociais, bem como trouxe cenas da zona sul. De fato, a novela mostrava essa luta entre as classes, os personagens ricos (interpretados por Dina Sfat, Carlos Eduardo Dolabela, Gilberto Martinho, Arlete Sales, entre outros) e os pobres, liderados pelo personagem Cristiano Vilhena, de Francisco Cuoco, além de Regina Duarte, Mário Lago, Ana Ariel, Dorinha Duval, Carlos Vereza e outros).


Da história acho que todos lembram, Cristiano assassina um rapaz sem querer, é ajudado pela personagem de Regina Duarte, os dois se casam, vão para o Rio e lá, em uma pensão modesta do Catete, conhecem o ambicioso Miro, show de interpretação de Carlos Vereza.

Os dois tramam a morte da esposa de Cristiano (Simone), quando percebem que Fernanda (Dina Sfat) está apaixonada por Cristiano, ela descobre, finge-se de morta e depois retorna com uma peruca loura, dizendo ser a irmã da defunta, a internacional e famosa (não existia o termo celebridade naquela época) Rosana Reis, a escultora.


Essa novela foi um grande sucesso de audiência, chegando a dar 100% de IBOPE no último capítulo, quando Simone, que estava aprisionada por Fernanda, entra no tribunal, de cadeia de rodas, no qual Cristiano está sendo julgado. 

Assistindo ao dvd, algumas coisas me chamaram a atenção: a personagem de Dina namorava Dolabela e levava tapa na cara o tempo todo, incrível como a violência contra a mulher era naturalizada nestes folhetins do tempo do onça.

Glória Pires também participou na sessão dos pobres, devia ter uns 9 anos.

Outra que fez uma participação especial (na cena dos ricos) foi Hildegard Angel, que perdera o irmão, Stuart, assassinado pela ditadura um ano antes...

Uma outra coisa escabrosa, talvez por causa da censura (que exigiu que Cristiano e Simone se casassem antes de viajarem de cidade) foi Simone Rosana Reis desistir da carreira para cuidar do marido...

No próximo post vou comentar Pecado capital, eu juro que não irá demorar 7 anos como da outra vez. Esse blog é tão antigo, que nem existe mais esse design, mas estou com pena de trocar pelos modelos mais novos, simpatizo com as bolinhas.

segunda-feira, 22 de setembro de 2014

IRMÃOS(1970), DANCY'N DAY'S (1978) E O BEM AMADO (1973)

Depois de um longo e tenebroso inverno, eu voltei agora pra ficar e continuarmos a tratar de Memória, de História, da nossa história cultural. 
E podemos começar comentando os dvds de novela, que foram lançados em box? Comprei os que me interessou mais, embora a variedade seja relativamente grande... vamos de Irmãos Coragem (1970), Dancy'n Days (1978), O Bem Amado (1973), Selva de Pedra (1973) e Pecado Capital (1975)? Já assisti aos dois primeiros na íntegra, atualmente termino o terceiro, já engatei os dois últimos, nessa ordem, para assistir.
Rita Lee disse, uma vez, que novela é cultura. Fechei de novo com ela. Ainda mais escrita por autores que vieram de uma tradição do teatro ou do radio-novela. Estamos falando da teledramaturgia de Janete Clair e Dias Gomes e do herdeiro mais direto de Clair, Gilberto Braga.
Irmãos Coragem, como apresentou Daniel Filho na abertura do dvd, foi gravado no local onde hoje funciona o Barra Shopping. Dá para imaginar como era a Barra antigamente assistindo à novela, inclusive existe uma cena na qual a personagem Ritinha (Regina Duarte) está por lá e vemos um único prédio sendo construído. Loucura!
O elenco da novela que pretendeu conquistar também o público masculino com a sua estória meio bang bang, na qual irmão honestos lutam contra a maldade de um coronel. Um deles (Tarcísio Meira) encontra um diamante, o que provoca uma grande perseguição a esta sua riqueza.

Na cena urbana, temos Duda (Cláudio Marzo), que só poderia ser Flamengo (a Globo acha que todos os cariocas são).


É interessante perceber algumas questões de 40 anos atrás. Televisão inexistia, no máximo uma vitrola portátil, um rádio, um telefone que só podia ser usado com telefonista... e talvez o melhor de tudo; o show de Glória Menezes interpretando 3 personagens muito distintas, Lara, Diana e Márcia: a primeira, reprimida ao extremo, a segunda, uma feminista devassa e a terceira, um equilíbrio entre as duas. E todos sempre com um cigarro na mão! (Abaixo, Diana e João Coragem).
Nesta época não existia o Projac e as cenas externas eram gravadas na rua. Por isso, é interessante observar como se constituía a cidade do Rio de Janeiro, por exemplo, que em Dancy'n Days, de Gilberto Braga, elege Copacabana como centro de atenções para narrar a saga de Júlia Lopes (Sônia Braga), ex-presidiária que luta para conquistar o amor da filha (Glória Pires), criada por sua irmã (Joana Fon) que deu um golpe do baú e mora na Avenida Atlântica. O papel de Sônia era para ter sido de Betty Faria, que recém separada de Daniel Filho, não quis participar da novela que o seu ex dirigia. Também o papel de Joana Fon era de Norma Benguel, que gravou alguns capítulos, mas logo abandonou a novela.
Percebi que a casa de Cacá (Antônio Fagundes) ficava mesmo era no Leblon, não em Copa, naturalmente já veio abaixo há tempos.
Atualmente reprisada pelo Canal Viva, lançou a moda da discoteque pegando o nome emprestado de Nelson Motta, que, segundo afirmou em Noites Tropicais, ao tentar recriar o ambiente no Morro da Urca, sofria por explicar às pessoas que os artistas da novela não estariam lá...
A que estou vendo atualmente é O Bem Amado. Um dos melhores textos de novela já escritos, sátira em pleno anos 70 de ditadura militar, sendo Dias também comunista de carteirinha. 
A primeira novela a cores das 22 horas trazia Odorico Paraguassu (Paulo Gracindo), um político corrupto da imaginária Sucupira, que fora casado com uma Cajazeira já falecida, sendo, atualmente, amante das três irmãs solteiras da cidade que viviam hipocritamente debaixo do slogan da família, da moral e dos bons costumes. Quem não se lembra que Odorico engravidou Dulcinéia (Dorinha Duval), arquitetando um plano terrível para que ela casasse com Dirceu Borboleta (Emiliano Queiroz), que havia feito voto de celibato? Essa é uma das menores canalhices que ele aprontou na novela.
Havia uma oposição entre os Cajazeiros e os Medrados, incentivada por Odorico que tenta de todas as formas inaugurar o cemitério e recuperar a imagem arranhada pela oposição, que denuncia seus gastos abusivos. Para isso, manda vir para a cidade o jagunço Zeca Diabo, na verdade já regenerado, que havia virado assassino em função de slavar a honra de sua irmã. 

Fazem parte dos que se opõem a ele o jornalista interpretado por Carlos Eduardo Dolabela, que se apaixona por Telma (Sandra Brea), a delegada Medrado (Zilka Salaberry) e o médico Juarez (Jardel Filho), que para a desgraça de Odorico, se envolve com Telma. O teor político desta novela é impressionante, com o doutor Juarez liderando motins, passeatas e uma série de rebeliões que incomodavam por demais a censura, que também não gostava nada do assanhamento das irmãs Cajazeiras com o Prefeito...
Segundo Dias Gomes, Paulo Gracindo não queria interpretar Odorico e sim o personagem de Jardel, por temer que o personagem Tucão, de Bandeira 2, o estereotipasse. Também Daniel Filho, na introdução do dvd, afirma que por ter sido a primeira novela em cores, algumas cenas ficavam esgaçadas pelo contraste de cores.
Há destaque para dois atores negros. Pela primeira vez Ruth de Souza não faz uma empregada doméstica, a sua Chiquinha é assistente do Doutor Juarez... e Zelão, pescador e seu marido, deseja voar, numa alusão clara a libertar-se das opressões...

A primeira cena, aliás, se divide entre a festa de Iemanjá e a da missa católica, a igreja fica vazia do dia 2/2...
Embora a novela tenha sido gravada em Sepetiba, havia algumas cenas no Rio de Janeiro e em Salvador. Vemos uma Ipanema muito diferente, assim como a Copacabana de 1973.
Já andei dando uma olhada nas próximas. A abertura de Selva de Pedra é muito interessante, já viram?

 E Pecado Capital recuperou a antiga fábrica Nova América, hoje, Shopping. Era lá que as irmãs Lucinha (Betty Faria) e Emilene (Elisângela) trabalhavam, mas isso é papo para um próximo post.


quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

UMA REVISTA CHAMADA BUNDAS



Durante os anos de 1999 e 2000, circulou uma maravilhosa revista, idealizada por Ziraldo e Jaguar, chamada Bundas.

Era pura provocação à Caras. O slogan era "Quem coloca a cara em Bundas não coloca a bunda em Caras". Mais uma dos geniais autores de O Pasquim.

Eu não perdia uma e tenho a minha coleção até hoje.

Era de uma inteligência só. Vejam os artigos do exemplar acima, por exemplo, com menção até a Oswald de Andrade! Sem contar a ironia de Hitler na Ilha de Caras.

Infelizmente, a revista não teve fôlego para continuar, por falta de anunciantes! Parece que as pessoas tinham vergonha de chegarem em uma banca e pedirem a Bundas.

Besteira. Há tanto pudor, tanto pudor! Já li sobre isso nas peças de Nelson Rodrigues.

Finalizo meu último post do ano com essa homenagem a Bundas, voltarei ao tema.

Estou de mala e cuia prontas para uns dias em Cabo Frio.

Feliz Natal!

Feliz 2010!

Espero que as minhas plantinhas não morram!!!

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

CARÍCIA, UMA REVISTA PEQUENA



Nos anos 60, as revistas começaram a crescer em tamanho. Perseguiam o comprimentos da Cruzeiro, da Realidade... a Intervalo, por exemplo, que já mereceu um post por aqui, entra nos anos 70 com centímetros a mais. Da revista Amiga, então... nem é necessário falar. Todos sabem como era imensa.

No meio das gigantonas, eis que surge uma pequena, em meados da década de 70 chamada singelamente de Carícia.

Foi um sucesso. Direcionada às adolescentes, que não possuíam publicação específica, falava da primeira vez, de moda, etc. Não lembro se tinha fotonovela. Mas devia ter, toda a revista, naquela época, imitava a tele-novela, na fotonovela.

Na escola, em que eu fazia o primeiro grau (que já foi ginásio e agora chama ensino fundamental, não sei para que mudam tanto o nome, se o mais importante, a qualidade, continua precária), minhas colegas sempre discutiam os assuntos da Carícia. O primeiro beijo, o primeiro isso, o primeiro aquilo. Lá, tudo era o primeiro.

As mulheres mais velhas tinham as suas revistas: Capricho, Nova, Grande Hotel, Romance Moderno... sem contar as especializadas em artistas como Sétimo Céu, Romântica... e, agora, nós tínhamos a Carícia. O curioso era que a capa da little trazia sempre só o rosto da manequim (naquela época se chamava assim, modelo ou manequim, não existia a palavra top), já a revista Nova, trazia a mulher de corpo inteiro, sempre com a roupa bem decotada. Infiram...
Grandes coisa, né? Mas era novidade. Eu, particularmente, preferia a Pop, que colecionava com meu minguado dinheirinho de mesada. Depois a Pop acabou e muitas revistas imitaram a Carícia. Nem sei se ainda existe! Cartas para a redação.
Um abraço!