quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

UMA REVISTA CHAMADA BUNDAS



Durante os anos de 1999 e 2000, circulou uma maravilhosa revista, idealizada por Ziraldo e Jaguar, chamada Bundas.

Era pura provocação à Caras. O slogan era "Quem coloca a cara em Bundas não coloca a bunda em Caras". Mais uma dos geniais autores de O Pasquim.

Eu não perdia uma e tenho a minha coleção até hoje.

Era de uma inteligência só. Vejam os artigos do exemplar acima, por exemplo, com menção até a Oswald de Andrade! Sem contar a ironia de Hitler na Ilha de Caras.

Infelizmente, a revista não teve fôlego para continuar, por falta de anunciantes! Parece que as pessoas tinham vergonha de chegarem em uma banca e pedirem a Bundas.

Besteira. Há tanto pudor, tanto pudor! Já li sobre isso nas peças de Nelson Rodrigues.

Finalizo meu último post do ano com essa homenagem a Bundas, voltarei ao tema.

Estou de mala e cuia prontas para uns dias em Cabo Frio.

Feliz Natal!

Feliz 2010!

Espero que as minhas plantinhas não morram!!!

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

CARÍCIA, UMA REVISTA PEQUENA



Nos anos 60, as revistas começaram a crescer em tamanho. Perseguiam o comprimentos da Cruzeiro, da Realidade... a Intervalo, por exemplo, que já mereceu um post por aqui, entra nos anos 70 com centímetros a mais. Da revista Amiga, então... nem é necessário falar. Todos sabem como era imensa.

No meio das gigantonas, eis que surge uma pequena, em meados da década de 70 chamada singelamente de Carícia.

Foi um sucesso. Direcionada às adolescentes, que não possuíam publicação específica, falava da primeira vez, de moda, etc. Não lembro se tinha fotonovela. Mas devia ter, toda a revista, naquela época, imitava a tele-novela, na fotonovela.

Na escola, em que eu fazia o primeiro grau (que já foi ginásio e agora chama ensino fundamental, não sei para que mudam tanto o nome, se o mais importante, a qualidade, continua precária), minhas colegas sempre discutiam os assuntos da Carícia. O primeiro beijo, o primeiro isso, o primeiro aquilo. Lá, tudo era o primeiro.

As mulheres mais velhas tinham as suas revistas: Capricho, Nova, Grande Hotel, Romance Moderno... sem contar as especializadas em artistas como Sétimo Céu, Romântica... e, agora, nós tínhamos a Carícia. O curioso era que a capa da little trazia sempre só o rosto da manequim (naquela época se chamava assim, modelo ou manequim, não existia a palavra top), já a revista Nova, trazia a mulher de corpo inteiro, sempre com a roupa bem decotada. Infiram...
Grandes coisa, né? Mas era novidade. Eu, particularmente, preferia a Pop, que colecionava com meu minguado dinheirinho de mesada. Depois a Pop acabou e muitas revistas imitaram a Carícia. Nem sei se ainda existe! Cartas para a redação.
Um abraço!

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

ALÔ, ALÔ, TERESINHA








Acabei de chegar do cinema, assisti ao documentário sobre o Chacrinha, um filme de Hoineff.

Eu preferiria ver o Chacrinha através de uma visão mais histórica, que pecoresse a trajetória dele, desde o rádio, etc. Mas talvez o modelo escolhido pelo diretor tivesse mais a ver com o estilo anárquico do Velho Guerreiro.
Saí um pouco com a sensação de que o argumento era coisa de homem... parecia que as preocupações maiores ali eram saber sobre a vida sexual das chacretes (e seus destinos), sobre os calouros buzinados (incrível como ele localizou alguns!) e colher uma ou outra opinião de cantores. Além de fofoca também percorrer a vida do próprio Chacrinha e sua paixão por Clara Nunes e por algumas das chacretes.
A pergunta final era: afinal, que era a Teresinha? Parece que era a irmã de Rosemary (você sabia que a Rosemary tinha uma irmã?) que era a garota propaganda das Casas da Banha, que patrocinava a Buzina do Chacrinha.De qualquer maneira, vale a pena ver o filme. A face meio perversa do Abelardo Barbosa está lá em buzinar e traumatizar calouros que, muitas vezes nem abriam a boca e já ganhavam o troféu abacaxi, também na generosidade em dar fama às chacretes (às quais ele deu nome, e promovia em seus programas) e a alguns cantores, que até se emocionaram durante o depoimento.
De fato, o Chacrinha era tropicalista, porque misturava Ney Matogrosso com Agnaldo Timóteo, Cazuza com Nelson Ned... e depois dele, nenhuma outra dançarina conseguiu tal notoriedade só por ser dançarina... as atuais nem têm nome e não marcam sua presença nos programas.
Penso que o espírito do filme ficou na participação de Biafra, cujo vídeo já é um dos campeões do You Tube. Ao cantar "Voar, voar..." e ser atropelado por uma asa delta, ele morre de rir e diz: "O Chacrinha colocaria no ar". E entrou.

domingo, 16 de agosto de 2009

ANILZA LEONI




Li hoje que Anilza Leoni tinha morrido. Apesar de a internet já ter anunciado isso desde o dia 07/08, eu e a minha velha mania de ler jornais acumulados fomos sendo informados da notícia a conta gotas... primeiro li no Ancelmo Góis (O Globo) que ela estava internada em estado grave. E, depois, na seção obituária, que morrera em 06/08.


Conheci Anilza em 1973. Eu tinha oito anos e ela frequentava a casa da minha tia Nina, que era casada com Nilo Chagas, integrante do Trio de Ouro, com Dalva de Oliveira e Herivelto Martins. A minha família sempre foi ligada em música. Um primo meu, de nome Marcos, casou com uma das filhas de Ataulfo Alves. Meus primos todos gravaram compactos e LPs, um deles até fez relativo sucesso cantando em inglês no grupo Manchester, com a canção "My dear", que foi tema de Betty Faria na novela Duas Vidas, em 1976... De modo que, tanto a minha casa, como a de meus parentes, eram um verdadeiro entra e sai de artistas, além dos já citados, The Fever's, Renato e seus blue cap's e outros. Acho até que Carlos Imperial e Simonal já andaram por lá também.


Para quem não se lembra ou nunca ouviu falar de Anilza Leoni, ela começou a carreira como vedete, na década de 50. Seu último trabalho na tv foi em uma participação especial em Casos e Acasos, que por acaso tive a oportunidade de ver. Talvez o seu trabalho mais conhecido tenha sido em A gata comeu, de 1985, da Rede Globo. Era extremamente bonita e delicada (como pode ser verificado nos vídeos postados aqui e nas fotos, reparem que em um deles, "Você é de morte", de 1960, em que ela canta um rock com Ankito, Simonal aparece como figurante no conjunto logo atrás da dupla) por isso, foi eleita como uma das Certinhas do Lalau por 3 vezes, isso em uma época que não havia retoques cirúrgicos nem virtuais para tornar as mulheres belas. Ou se era ou não. Lalau era o apelido do jornalista e humorista Stanislaw Ponte Preta (Sérgio Porto), que inspirado numa frase do pai, que quando considerava uma cidadã jeitosa, exclamava: "Olha só que moça mais certa!" criou "As certinhas do Lalau", durante 1954 a 1968, tendo eleito 142 "certinhas". Dentre elas, Anilza.


Em 1973 eu adorava fazer o símbolo do paz e amor para desconhecidos na rua e para quem aparecesse na minha frente. Minha mãe não gostava nada da idéia e me dava beliscão em cima de beliscão. Ela dizia que não sabia de onde eu tinha tirado aquilo, que só podia ser da tv. Mas eu via outras coisas na tv e não imitava. E sempre gostei do paz e amor.


Acontece que a era Médici não era muito chegada em paz e amor. Eu nem fazia idéia do perigo que corria quando colocava o dedo em V como uma hippie no meio da rua. Alguns me correspondiam no gesto. Outros riam, desconcertados. Alguns ficavam sérios e outros me fuzilavam com os olhos. De modo que minha mãe me proibiu de fazer o tal gesto...


Quando Anilza e seu marido, Álvaro, apareceram na casa da minha tia eu fiquei na minha com relação ao gesto do paz e amor. Mas desandei a mostrar outras facetas do meu lado "vai ser gauche na vida" drummondiano: falei que era fã de Vianinha, dos Secos e Molhados e da canção Gita, de Raul Seixas.


O marido de Anilza era um chato. Vivia me reprimindo. Dizia que eu deveria era gostar de cantores de verdade como Tito Madi. Que Raul Seixas e Secos e Molhados eram transviados e Vianinha, terrorista, comunista. Eu não sabia o que era transviado, nem terrorista, nem comunista. Mas pensava que se eles eram isso, devia ser coisa boa. E não fazia idéia de quem era Tito Madi. E dizia assim pro Álvaro Leoni: "Ah, mas o Secos Molhados e Vianinha são um barato!"


Álvaro ficava com os cabelos em pé. Dizia pro meu pai que barato era coisa de drogado. Que eu era uma criança muito da esquisita. E por aí vai... Ele não ia muito com a minha cara. Anilza não era de falar muito. Nunca entendi porque ela tinha casado com um cara tão chato. Ela era toda gentil. Todos a tratavam como uma rainha na casa da tia Nina, ela tomava muito café e fumava, silenciosa. De vez em quando olhava pra mim e sorria, quando eu falava as minhas loucuras precoces. Ela gostava de poesia e me deu uns poemas pra ler um dia. Verdade seja dita, da família, eu fui a única que mereceu a atenção dela. Depois do meu primo, claro, com o qual ela gostava muito de conversar. Primo Carlos, já falecido. Descobri depois que ele era apaixonado por ela. Depois da sua morte, herdei uns livros dele e, dentre eles, um de Paul Valèry cujos poemas traziam o nome de Anilza. Li algumas cartas dele pra ela também...


Mas o que interessa aqui é escrever que a Anilza me ajudou um dia. Apesar da proibição da minha mãe de eu fazer o tal Paz e Amor pras pessoas, eu continuava a fazer isso escondido. Meu ponto preferido para a difusão dso sinal era na casa da minha tia, sentada em cima do muro. Para os passantes, eu mandava o sinal com os dedos. A maioria nem ousava corresponder. Mas alguns gostavam e faziam pra mim também. Isso dos 8 aos 10 anos de idade. Um belo dia, Anilza me flagrou no ato. Ela ficou meio perplexa, lembro que olhou ao redor, nervosamente. Se aproximou de mim e disse baixinho: "Não faça isso... é perigoso... e feio.". Levei um susto. Pensei que ela me entregaria. Mas ela sorriu pra mim, mais uma vez. E nunca falou nada pra minha mãe.


Por isso, fiquei triste com a morte da minha cúmplice. Nunca mais a vi, só em 1985, no enterro do meu primo. Soube pela Obituário que ela estrearia uma peça sobre Mário Quintana com Monique Lafond e Tamara Taxman, entre outros. Seus colegas de profissão escreveram: "Parece um sonho que ela tenha vivido!", inspirados na leveza de Quintana. Ela era leve, mesmo. Muito leve, leve, pousa...


Videos com Anilza no You Tube

http://www.youtube.com/watch?v=3Zsu85sMrYM&feature=related


http://www.youtube.com/watch?v=dS1OiM-4gbg&feature=related

segunda-feira, 20 de julho de 2009

AMIGA TAMBÉM É CULTURA!




Segundo a biografia Dez, nota dez! Eu sou o Carlos Imperial, de Denílson Monteiro, que me foi presenteada pelo amigo, engenheiro, músico e biógrafo (espero não ter esquecido nada) Henrique Bartsch, a revista Amiga surgiu para rivalizar com a Intervalo, porém mais voltada para os artistas de novela, diferentemente da outra publicação, cujo interesse caía mais nos ídolos da música, do rádio, passando pela Jovem Guarda e chegando aos revelados pelos Festivais.
As lembranças pessoais que tenho dessa revista enorme, eram alguns vizinhos colando posters do elenco de Irmãos Coragem na parede e a minha tia voltando do trabalho com uma debaixo do braço, principalmente se a dita cuja viesse com a foto de Sandra Bréa estampada. Tia Nina era fã de La Bréa. Aliás, deve ter sido ela a me inspirar, algum tempo depois, quando fiquei de quatro por Rita Lee, aos 11 anos, a colecionar revistas com Miss Lee... em 1975.

Andei dando uma espiada em algumas que achei por cá para trazer algumas curiosidades e talvez, pela quantidade de matérias interessantes que encontrei, tenha que dividir esse post em dois ou três. Tenham pciência. E prometo não demorar mais tanto a postar, ó caros seguidores!Vou começar pelas mais antigas, três de 1971 e duas de 1975. Era difícil não vir um ator ou atriz global nas capas da Amiga. Isso até 1983, quando a Manchete inaugurou seu canal de televisão, pois a partir daí, os atores da bloch começaram a aparecer nas capas da Amiga, mas isso só no década de 80...Nos anos 70, era raro não encontrar uma capa com Regina Duarte, Francisco Cuoco, Glória Menezes, assim como, na Intervalo, com Roberto Carlos, Wanderley Cardoso ou Jerry Adriani. Quando algum cantor/cantora dava o ar de sua graça na capa da Amiga, podem crer que tinha novela metida no meio, como na capa do número 49, vejam só o título: Vanderlei Cardoso: gostaria de ser galã de Regina Duarte! Nessa época ela já trazia como subtítulo Tv Tudo, mas nas edições mais antigas, vinha o seguinte: Revista semanal de fotonovela e tv. E, de fato, as fotonovelas ocuparam por um longo tempo as páginas de Amiga (também conhecida como Inimiga,por alguns). Até fotonovela com o Vagner Montes eu achei, mas isso fica pra próxima.

Em uma outra revista, de 26/1/1971, a notícia era a briga entre Roberto Carlos e Erasmo Carlos. Tudo porque, segundo a matéria, a cantora Cláudia havia gravado Jesus Cristo, tendo feito o pedido para tal gravação a Erasmo. Ocorre que Roberto queria ter a exclusividade de modo que os ânimos ficaram alterados e a Amiga lá, testemunhando os barracos como sempre...:
"Nunca um disco de Roberto Carlos deu tanta confusão, quanto seu recente álbum, lançado há algumas semanas pela CBS.

Inicialmente, houve um problema de distribuição do LP, lançado com alguma antecedência por disc-jóqueis paulistas, que arrumaram, ninguém sabe como, uma fita magnética com as músicas gravadas.
Finalmente, o disco foi lançado no Natal, e já se encontra nas paradas de sucesso, como um dos prováveis líderes de vendas.
Jesus Cristo, o carro-chefe do LP, além de ser uma das músicas mais tocadas nas rádios, começa a dar problemas. Composta por Roberto e Erasmo Carlos, foi gravada pelo rei, com exclusividade, como acontece em todas as canções dos seus discos. A cantora Cláudia, entretanto, conversou com Erasmo, pedindo-lhe autorização para fazer a gravação, no que foi atendida.

Cláudia fez a gravação e a reação de Roberto Carlos não foi boa. Conversou com Erasmo, dizendo-se contra a atitude de seu irmão, pois queria a exclusividade de Jesus Cristo. Erasmo, por sua vez, ficou chateado com Roberto, pois acha que não há mal algum em Cláudia gravar (por sinal muito bem!) a composição. Mas o rei parece não concordar com ele. Quase saiu briga." (p. 11)


Indo além do barraco, fico encantada com a redação e os elementos jurássicos trazidos... fita magnética, disc-jóquei, LP, mais tocada no rádiio... imagina hoje, quando ninguém controla mais nada em termos de divulgação de som e imagem, tudo vasa...

Nesta Amiga de 27/4/1971, cuja capa publiquei aí em cima,uma curiosidade: Elis Regina no Chacrinha, recebendo o disco de ouro. Eu nem fazia idéia que ela já tinha ido lá. Já o Jerry Adriani, que aparece também numa foto, era figurinha fácil por lá. Adorei o modelito dele. Gente, eu sou fã dos anos 70!






quarta-feira, 27 de maio de 2009

POSTERS DE ARTISTAS




Algo muito interessante que vinha nessas revistas antigas eram posters dos ídolos.
Amiga, Sétimo Céu, Contigo, Ilusão, Romântica e outras, traziam, como encarte, uma penca de fotos coloridas, bem caprichadas, para desfrute dos fãs.
Algumas, como a Amiga, chegavam a publicar posters gigantes! Esses, enfeitavam as paredes, geralmente dos quartos, da casa dos leitores.E a POP, especializada em música jovem, também não ficava atrás. Estes posters eram sempre anunciados nas capas das publicações, geralmente com artistas que estavam em evidência.
Observem só nas capas das revistas postadas, a POP de junho de 1977 fornece o maior destaque da revista para o poster gigante e colorido do Genesis. A ilustração do rapaz deitado, lendo, (olha a calça de boca larga) é também de uma POP, só que mais antiga, de 1974, e é exemplificativa de que se costumava enfeitar a parede com os tais posters, que no caso desta revista, não se fixava apenas em imagens de artistas e sim na do chamado mundo jovem da época.
A Contigo de 1973, agora colorida (!!!) traz a imagem do pão (era assim que as moças dos anos 70 chamavam um homem bonito, não me perguntem porquê) Tarcísio Meira, com o detalhe em destaque: Posters coloridos Os grandes ídolos. Sabem quem veio como grandes ídolos? O pão Dênis Carvalho, a pã (?) Sandra Bréa, o pão Roberto Pirilo, a pã Romy Schneider, o pão Haroldo de Oliveira, poster duplo da pãpã Vera Fischer sem blusa, a pã Maria Alcina, o pão Hugo Carvana (fumando, ahuahauha, hoje seria difícil divulgar a imagem de um artista fumando nesses tempos de politicamente correto) e a pã Gilmara Sanches.
Conhecem todos esses nomes?
Abraços, obrigada pela preferência.






quinta-feira, 14 de maio de 2009

CONTIGO NO SÉTIMO CÉU







Fui procurar no novo pai dos burros, não mais o Aurélio, mas o Google, sobre as revistas Contigo e Sétimo Céu e só achei dados sobre a primeira:

"A revista Contigo! foi criada em outubro de 1963. É a quinta revista mais antiga da Editora Abril, atrás de Capricho (1952), Manequim (1959), Quatro Rodas (1960) e Claudia (1961). Ao ser lançada, tinha periodicidade mensal e trazia basicamente fotonovelas" (http://pt.wikipedia.org/wiki/Contigo!)

Alunos de Comunicação Social, uni-vos e pesquisais sobre a Sétimo Céu. Essas publicações, juntamente com outras do gênero (Grande Hotel, Carícia, Amiga) povoaram a minha adolescência nos anos 70. Não sou da época de Júlia e Sabrina (anos 80 e, para dizer a verdade, nem gostaria de ter sido) que imitavam a antiga Romance Moderno, de 70, com contos e muita prosa açucarada que minha irmã, mais velha do que eu seis anos, adorava; mas sim dessas revistas que não costumava comprar (eu colecionava a Pop, voltada para a música, somente por causa da minha sempre paixão por Rita Lee), mas que eventualmente lia por causa da minha tia Nina, que sempre comprava a Amiga.

Vejamos duas matérias publicadas numa Contigo de 1973 (com a Marília Gabriela) e outra da Sétimo Céu com Elis Regina, em 1975, além de admirarmos o índice da Sétimo, de uma revista de 1973... Duas mulheres de destaque, a primeira jornalista do então Jornal Hoje e a segunda, cantora.
O machismo da matéria com Gabi não é escondido da reportagem "A bela da tarde", feita por Benê Pompílio, com fotos de Paulo Salomão e Keiju Kobayashi, vejam só este trecho: "Dona de uma voz marcante e de uma dicção perfeita, muitas vezes Marília consegue ser melhor que seus comapanheiros masculinos (...)" UI!!! De fato, tenho uma amiga, nascida em 1950, que quis entrar para a Faculdade de Jornalismo, tendo sido isso vetado pela família. Mulher jornalista era coisa rara e Gabi deve ter servido de estímulo para muita gente... Rita Lee seria também uma jornalista por essa época, quem sabe, se não tivesse largado a Faculdade de Comunicação Social, da USP, para seguir carreira na música.

A entrevista com Elis, feita por Vera Rodrigues, com fotos de Adir Mera, "Meus filhos não são notícia" faz questão de destacar o fato dela ser casada pela segunda vez com César Camargo Mariano . Maria Rita ainda não existia, João Marcelo tinha 5 anos e Pedro, 5 meses. Era muito comum essas revistas enfocarem o lado mamãe das cantoras e atrizes, e na matéria, Elis afirma não gostar de expor seus filhos por serem ainda muito pequenos para decidirem se gostariam de aparecer ao lado dela nas fotos.
Mal sabia ela do futuro!

E vejam só o que estava na moda na revista Sétimo Céu (série amor) de 15/9/1973:
Glória Menezes e Tarcísio Meira, na página 6 : Eles casaram 11vezes e continuam muito felizes. (NOSSA);
Lúcia Alves, na 12: Tempo de lua de mel e de manter a cuca tranquila (Saudade dessa gíria, "cuca". Pelo visto, na época do Governo Médici todo mundo era apaixonado e feliz);
O sonho lindo e maravilhoso de Chico di Franco, na 14 (eu só não sei quem é esse, mas parece que Caetano estava certo: tudo é divino maravilhoso);
José Fernandes: temíveis notas de zero a dez, na 16. (Mas depois de ler sobre um casamento feliz, eu vou ter que encarar essa mala de jurado que fazia tipo e dava zero antes do cara cantar?);
Palavras contidas, o retrato exato da vida real, na 18. (??? Não está muito elucidativo para um índice, pelo jeito, vou ter que abrir a revista e ver do que se trata...,ah, é um conto);
Os ideais se completam: Antônio Marcos e Vanusa, na 30 (Mais gente feliz!);
Bolsa para você fazer com bossa e charme, na 78 (Pelo visto, as moças que liam Sétimo eram todas prendadas, faziam as suas próprias bolsas. Mas essa palavra "bossa" tava meio cafona pra moçada de 70, não?);
As sete curtições sensacionais de Jardel Filho, na 94. (hummmm);
Livro de poemas de Vanderlei (não diz a página e nem coloca o sobrenome do cantor, então, ele devia ser bem íntimos das sétimas ceuzitas)
E mais duas fotonovelas:
Agnaldo Raiol e Dina Sfat envolvidos numa trama de amor, Doce imagem de mulher, na 22
Fuga para o passado, sensacional aventura a cores, com Francisco Cuoco e Nívea Maria, na 35.
Aventura a cores é ótimo, não?


















sábado, 18 de abril de 2009

NA ÉPOCA DA VITROLA E DA MÁQUINA DE ESCREVER











Folheando revistas antigas, nos deparamos com anúncios e artigos interessantíssimos que nos reportam a uma época a.C. (não é antes de Cristo não, é antes do Computador) em que as pessoas escreviam à máquina e ouviam vitrola.



Minha primeira máquina de escrever, ganhei do meu pai, aos 15 anos, em 1979. Uma Remington portátil que tenho até hoje. A primeira vitrola também foi portátil, minha mãe trocou não sei quantos carnês do Baú da Felicidade por ela. O ano: 1973, era da marca Philips.



Sempre tive coisas portáteis, mas confesso que os presentes, embora adorados por mim, não correspondiam aos meus ambiciosos sonhos de ter uma rádio-vitrola (isso mesmo, com tampa, um móvel imenso que as famílias mais abastadas mantinham na sala) e uma máquina Olivetti.



Só muitos anos depois, já na década de 90, pude comprar uma vitrola grandona, mas aí ela já vinha com toca-fitas e aparelho de cd. UAU!!! E também uma máquina de escrever enorme, mas elétrica. E Olivetti, claro, com esferas e sem aquelas malditas fitas preta e vermelha que manchavam até a nossa alma.


Meu primeiro emprego quase foi o de instrutora de curso de datilografia. Parece incrível, mas exisitia isso, tenho o meu diploma até hoje. Não era fácil fazer um curso de datilografia. Aprender a bater tabelas com perfeição, margens... vocês, da era do computer, chorariam (não é de rir não, de verdade). Era um saco. Não sei como eu conseguia e, pelo jeito bem, ao ponto de ser indicada para trabalhar no curso como instrutora. Mas meu pai nem em sonho deixava a mim ou a minha irmã trabalharmos fora, ele achava que atrapalharia os estudos. Como os namorados também eram vetados...


E os concurso de antigamente que tinham prova de datilografia? Tínhamos que fazer não sei quantos toques por minuto... creio em Deus pai.


E pensar que o gravador já foi do tamanho desse monstro aí de cima! Coitados dos jornalistas...

Fontes:

POP. São Paulo: Abril, n. 47, set. 1976. p. 27


SÉTIMO CÉU. Rio de Janeiro: Bloch Editores, n. 33, jun. 1975. p. 15


MANCHETE. Rio de Janeiro: Bloch Editores, edição histórica, ag. 1990, p. 53.







segunda-feira, 9 de março de 2009

REVISTA INTERVALO – LEILA DINIZ QUER ENGORDAR PARA SER VEDETE; HEBE CAMARGO LÊ AS CARTAS DOS FÃS; A PLATÈIA DO PROGRAMA SÌLVIO SANTOS; NOVELA DE JANET





























Dar uma olhada em algumas revistas das décadas de 60/70, é perceber como a televisão brasileira se comportava quando ainda era uma adolescente (afinal, a tv chegou no Brasil na década de 50). Naquela época, após o sucesso do rádio que se consagrou como veículo de massa a partir dos anos 30 (conta a lenda que seu idealizador, Roquete Pinto, bateu muito de porta em porta segurando os aparelhos, a fim de divulgá-los e, obviamente, vendê-los), a tela em preto e branco dos antigos televisores foram se popularizando aos poucos. Ao se familiarizar com o grande público, a televisão ajudou igualmente a tornar mais conhecidos alguns nomes que já existiam no rádio, além de divulgar outros anônimos, que após aparecerem na conjugação voz/imagem nos lares, viravam ídolos.
As notícias veiculadas aqui foram retiradas na revista Intervalo, números 299 e 385. Vale notar que esta publicação fazia um interessante jogo imagístico com o nome Intervalo, com destaque para as letras T e V inseridas em um desenho que reproduzia a própria tela. Mais poesia concreta do que isso, impossível, não é mesmo Augusto e Haroldo de Campos?

Leila Diniz dispensa comentários de apresentação. Mas o que muita top de hoje jamais imaginaria era que uma mulher considerada bonita, para os padrões de vedete (Virgínia Lane, Anilza Leone) não se pautava por ser uma Twiggy, ou seja, magérrima. Assim é que as certinhas do Lalau estavam mais para Mulher Melancia (se me perdoem a esdrúxula comparação) do que para Gisele Bundcheon. Por isso é que na matéria publicada abaixo, a reportagem não assinada afirma que Leila deseja, para voltar ao teatro rebolado, “encher um biquíni alguns números maior do que o que usa atualmente”. Cita outras atrizes que estariam na mesma intenção: “Maria Gladys, Norma Suely, Maria Aparecida, Zeli Silva e Ana Maria Magalhães são outras boazudas do elenco, e parece que também estão no regime de ampliação de fundos”. Não é mesmo incrível? Como os tempos mudaram!

Hebe Camargo vem atravessando as décadas com um fôlego artístico de fazer inveja. É um nome presente desde a primeira audição da TV no Brasil, nos desdobramentos cantora e apresentadora. Na reportagem abaixo, feita por Cynira Arruda, Hebe (um pouco de mitologia grega: pelo seu nome, Hebe surge mesmo como a personificação da juventude. Faz sentido, não é mesmo?) mostra o arquivo da correspondência que recebeu, segundo Cynira “desde o momento em que seu nome começou a projetar-se na televisão”.
Deve ser impressionante para a geração da época e-mails imaginar que, antigamente, as pessoas se comunicavam por cartas! Segundo a revista, os admiradores de Hebe, além das missivas, também lhe davam presentes, Entre esses admiradores, encontramos citada a cantora Rita Lee, na época, ainda na fase Mutantes: “com a mesma constância ela recebe presentes, que podem ser jóias , tapeçarias ou vinhos, flores, frutas. Entre as coisas curiosas, estão uma pulseira de cortiça e um colar de folhas de limão que foram dados por Rita dos Mutantes.”


A Intervalo trazia muitas propagandas, como qualquer revista do gênero. A acima divulga uma série que certamente não foi esquecida por quem a assistiu: A Família Trapo. Dentre os atores, Cidinha Campos (irreconhecível), Jô Soares e os saudosos Renata Fronzi e Golias:


O Público consumidor é fundamental na cultura de massa. Sem ele, os programas de televisão não dariam audiência, nem renderiam patrocínios. As platéias, nas suas poltronas ou nas dos auditórios, sempre foram peça chave no processo de consumo industrial dos bens artísticos, mas, como em toda relação capitalista, nunca foi boa idéia mostrar ao público consumidor que ele detinha tal poder de consagrar ou de destruir ídolos, muitas vezes fabricados. E a engrenagem industrial tratou logo de colocar os anônimos no seu lugar, como verifica-se na matéria abaixo, também não assinada, com fotos de Ioannis Hatiras.

“Numa das ruas do centro de São Paulo, uma fila que se estende por vários quarteirões chama a atenção dos passantes. São homens, mulheres, velhos, crianças, brancos ou pretos que se alinham, uns atrás dos outros, durante muitas horas. Os pacotes e as sacolas se multiplicam nos braços de cada um, enquanto são feitas novas amizades ou são reiniciadas conversas que vêm desde a outra semana. Pelo aspecto das pessoas, mais parece uma fila de INPS, mas a porta onde ela começa a ser formada não é de nenhuma instituição beneficente: é apenas a porta de um auditório de televisão, ou melhor, do Canal 5, Tv Globo de São Paulo. Todas as semanas – não importa a chuva ou o sol, a fome ou os mal-tratos dos funcionários – esta cena se repete trazendo as mesmas pessoas para a mesma espera, até a hora em que as portas forem abertas e elas possam se acomodar na platéia para aplaudir um destes três ídolos: Sílvio Santos, Dercy Gonçalves ou Chacrinha.”
A matéria segue identificando o responsável pela organização do auditório do Programa Sílvio Santos, o animador Gonçalo Roque, ou o “Rei dos macacos”, como era chamado pelas fãs, talvez numa alusão à macaca de auditório que, no sentido amplo do termo, estava ali para ser amestrada no sentido de bater palmas, etc., nas horas certas. Gonçalo foi descrito como tendo “Trinta anos, crioulo, baixinho, cabelo repuxado e sapatos brancos (...) vereador de Carapicuíba, mas não despreza os 500 cruzeiros novos que recebe por mês, pelo seu trabalho no Programa Sílvio Santos, aos domingos. (...) As duas primeiras fileiras ficam reservadas para as moças bonitas que aparecem no programa (...) Os vinte lugares que cada um dos fã-clubes (Paulo Sérgio, Wanderley Cardoso e Antônio Marcos) ocupam devem ser próximos uns dos outros para evitar que as fãs troquem palavrões entre si, o restante dos lugares é para quem fica na fila”.
Que cosa, não? Depois ainda falam que certos Fã-Clubes não são calmos. Tsc tsc tsc. E parece que os poetas tinham razão, Vinícius de Moraes quando disse “As feias que me desculpem, mas beleza é fundamental” e Manuel Bandeira com “Como deve ser bom amar uma feia!/Mas o meu amor não tem bondade nenhuma”, pelo menos ali na primeira fila do auditório, parece mesmo que sim!
As personagens que ocupam o auditório eram variadas, desde senhoras, empregadas domésticas e operárias que dormiam na porta da Rede Globo: “A gorda Maria Carolina da Silva que, apesar da amizade com Roque, não pode se dar ao luxo de entrar no auditório sem enfrentar a fila. Ela sai de sua casa, em Guarulhos, às 3h30 no domingo e uma hora depois já está na porta do auditório. O pouco dinheiro que ganha bordando é gasto em táxi nestes dias.” Mas, segundo a matéria, só de plebe vivia tal corte, pois “recentemente, um Galaxie (procurem no Google) parou defronte à Tv Globo. Era Dona Déa Magalhães, professora primária e esposa de um grande fazendeiro em Colatina, interior de São Paulo. Imediatamente Gonçalo arranjou-lhe um lugar privilegiado e a todo instante repetia: “Olhe, Dona Déa, a senhora pode voltar quando quiser, pra senhora não há fila não, ouviu?”
Que cosa, imagine hoje em dia uma professora primária ter esse tratamento vip! Ou o tratamento ainda se daria se ela fosse esposa de um grande fazendeiro?...

Passo dos ventos, alguém se lembra dessa novela, adaptada por Janete Clair? Com texto assinado por Júlio César e fotos de Pedro Henrique, a matéria desse número de Intervalo polemizava a respeito do caso de amor e consequente censura vivida entre os personagens de Djenane Machado (interpretando Hanah) e o ator negro Jorge Coutinho (como Bienaime). Quando aconteceu o primeiro beijo em cena, cartas desaforadas chegaram à Rede Globo. O texto não esclarece se mudanças foram feitas para agradar ao público preconceituoso, mas afirma que Régis Cardoso, o diretor da novela, não dera muita confiança a tais manifestações. Como nessa época eu nem sonhava em ver tele-dramaturgia, nem li nunca nada a respeito, gostaria de saber o desfecho!
Como diria Flávio Cavalcanti: Nossos comerciais, por favor!